Kinshasa – Nasceu de uma constatação que se moldou em ideia e deu forma a um projecto. «Olhares Cruzados» surge com o objectivo fomentar o contacto entre crianças brasileiras e africanas, um reflexo da prioridade brasileira em África e nos países emergentes.
«O projecto da Dirce Carrion e dos seus colaboradores traz consigo a ideia da integração e da cooperação entre os povos. Os nossos caminhos podem ser diversos, mas convergem nos objectivos» escreveu o presidente brasileiro, Inácio Lula da Silva, em Abril de 2008 sobre o projecto «Olhares Cruzados».
«Olhares Cruzados» nasceu em 2004, sob a coordenação de Dirce Carrion, com a criação de ateliers de fotografia e redacção com crianças do morro da Chacrinha, Rio de Janeiro, de Cabinda, Angola, do bairro de Hulene em Maputo, Moçambique, e da Vila dos Papeleiros em Porto Alegre. O resultado destes trabalhos foi finalmente apresentado em Janeiro 2005 no livro «Brasil-África Olhares Cruzados» durante Fórum Social Mundial de Porto Alegre.
Provocar o intercâmbio entre crianças de duas comunidades geograficamente diferentes mas com origens históricas semelhantes é o objectivo principal do projecto «Olhares Cruzados» considerou Dirce Carrion. Assim, são distribuídas máquinas fotográficas a crianças de comunidades diferentes. Cada criança fotografa o seu meio e o seu dia-a-dia. Paralelamente, em oficinas de criatividade, produzem cartas, desenhos, brinquedos, pinturas e cerâmicas para trocarem entre si. Estes trabalhos colectivos são publicados posteriormente na colecção «Olhares Cruzados» e apresentados em exposições onde as crianças intervenientes «são as convidadas de honra e os verdadeiros autores do projecto», explicou a responsável do projecto.
Com a parceria do Ministério das Relações Exteriores brasileiro em 2005 o mesmo projecto foi aplicado no bairro de Belair em Port Au Prince, Haiti e paralelamente na comunidade quilombola (designação dos descendentes de refugiados e escravos) do Frechal no Maranhão. Em 2006, com o apoio da Secretaria Especial da Promoção da Igualdade Racial e da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, participaram na mesma iniciativa crianças da comunidade quilombo de São Lourenço, em Pernambuco, e da Ilha de Gorée no Senegal. Juntamente com a Unicef, em Março de 2007, «Olhares Cruzados» é realizado na Republica democrática do Congo (RDC).
No mesmo ano «Olhares Cruzados» abrangeu as comunidades dogons da aldeia Songho no Mali, da Serra da Capivara no Piauí, indígenas da etnia Terena e Aymaras, Bolívia, comunidades senegalesas da região da Casamance e da comunidade quilombola dos Kalungas, Goiás. Em Moçambique as crianças de Miteme e Matole Boque da província de Manica estabeleceram o mesmo intercâmbio com as de Morro Alto e Porto Alegre, no Rio Grande do Sul no Brasil.
Juntamente com uma exposição foi lançado recentemente na Escola de Belas Artes em Kinshasa o livro «Brasil Congo – Olhares Cruzados» que reuniu os trabalhos das crianças de Diadema, na periferia de São Paulo, e as de Kimbanseke em Kinshasa. Um evento que resultou num sucesso diplomático para o Brasil, permitindo à sua embaixada na capital congolesa se destacar da sua tímida presença no país.
«O objectivo principal desta exposição é traçar um paralelo entre o Brasil e a RDC, e mostrar que as dificuldades que temos no Brasil são muito semelhantes aquelas que o Congo enfrenta» disse à PNN Flávio Bonzanini, embaixador do Brasil na RDC.
Mais de 45 por cento dos brasileiros são de origem africana, representando um universo de cerca de 80 milhões de pessoas, fazendo do Brasil o país com a maior população de origem africana no exterior de África, além de ser também o segundo país do mundo, após a Nigéria, com maior número de habitantes de origem africana.
Logo após a tomada de posse em 2003, Lula da Silva decidiu reconhecer a contribuição dos povos africanos na construção da identidade brasileira instituindo a lei 10.639 que impõe a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira, simultaneamente criou o SEPPIR (Secretaria Especial de Politicas de Promoção da Igualdade Racial).
O continente africano tornou-se numa prioridade da política exterior de Lula da Silva. Em cinco anos o Brasil passou de 17 a 33 o número de embaixadas em África, e Brasília assistiu ao aumento de 17 para 25 de representações diplomáticas de Estados africanos no Brasil.
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